A extensão do mar de gelo está correlacionada positivamente com a densidade de krill no setor Atlântico do Oceano Austral, que é exatamente onde existem as maiores densidade de krill na Antártica \cite{Atkinson_2004}. A maior extensão de gelo em anos frios favorece os blooms de fitoplâncton que servem de alimento para o krill e ocasiona maior disponibilidade de habitats para juvenis e larvas que se alimentam na camada inferior do gelo durante o inverno \cite{nicol2006krill}.

Outro fator climático importante são os ventos e correntes, que em anos de El Niño se intensificam na região do Mar de Weddell. Em períodos de El Niño, a região do Oceano Atlântico Sul sofre maior influência de Jatos de Frentes Polares (Polar Frontal Jets) e do Giro de Weddell \cite{Loeb_2008}. Esta corrente intensificada na região do Mar de Weddell promove maior mistura e fertilização por ferro e outros nutrientes, promovendo maior produtividade e abundância de fitoplâncton. Assim, as condições de invernagem do krill (devido à maior extensão do mar de gelo) e abundância de recursos alimentares (fito e zooplâncton) devido à maior produtividade melhoram após um evento de El Niño. Em suma, esperam-se melhores condições para o krill na região do Mar de Weddel após eventos de El Niño. Um giro mais intenso na região do Mar de Weddell também pode resultar em maior transporte de krill para as áreas ao norte, onde as baleias-jubarte se alimentam. Estes efeitos propagam-se pela atmosfera até esta região com um lag de 6 meses e refletem-se em processos biológicos no crescimento e recrutamento do krill com lags de 2 a 3 anos \cite{Murphy_2007}.

A maior densidade de krill nas regiões a leste da Península Antártica em decorrência do El Niño favorecem diretamente as baleias-jubarte que reproduzem no Brasil, ocasionando maior disponibilidade de alimentos às mesmas. A população brasileira alimenta-se nos arredores das Ilhas Geórgia do Sul, Shag Rocks e Ilhas Sandwich do Sul \cite{Zerbini_2006, ENGEL_2009}, ao norte do Mar de Weddell. A maior disponibilidade de alimento pode causar um efeito sobre a sobrevivência dos adultos e sobre os filhotes que foram concebidos na temporada anterior, aumentando sua taxa de sobrevivência (Figura 8). A partir de um evento de El Niño, o reflexo na demografia das baleias-jubarte é coerente com um atraso de três anos, conforme os resultados obtidos pelos modelos de sobrevivência de adultos e taxa de avistagem de filhotes.