2.1.5 Discussão

Nossos resultados demostram que a variação temporal na diversidade de uma assembleia de borboletas Ithomiini apresenta variações cíclicas, e que as simulações de dinâmica neutra não foram capazes de prever esses padrões.As DAE simuladas foram melhor descritas pelo modelo Broken stick ao longo de toda a série temporal, enquanto que nas DAE temporais empíricas os modelos Broken stick e os Log-normal/Poisson Log-normal se alternaram, sendo que estes últimos tiveram formas praticamente idênticas. A alternância na forma da DAE pareceu corresponder aos ciclos de formação e dissolução de bolsões, ao longo do qual a dominância da comunidade muda radicalmente. Nos períodos entre bolsões a dominância caiu consideravelmente e o modelo Broken stick parece descrever melhor a comunidade.

A similaridade temporal entre DAE simuladas foi consideravelmente mais elevada e constante do que a similaridade temporal entre DAE empíricas. A similaridade empírica também apresentou um ciclo que parece corresponder aos ciclos de formação e dissolução de bolsões. Esse ciclo ocorre devido a alternâncias no ranque de abundância de espécies. As espécies mais abundantes durante os bolsões, as quais dominam numericamente a assembleia no período, caem consideravelmente no ranque após a dissolução dos bolsões. Ao mesmo tempo, espécies mais raras durante os bolsões sobem no ranque após sua dissolução, fazendo com que as DAE desses períodos sejam negativamente correlacionadas entre si (Fig 6). Esse padrão indica que a premissa de equivalência demográfica entre espécies postulada pela teoria neutra - i.e., que as probabilidades de entrada e saída da assembleia são iguais entre as espécies – não teve suporte empírico.

Nossos resultados de mudanças cíclicas no ajuste temporal de DAE contrastam com dados obtidos para aves na Austrália (Mac Nally 2007). Os ranques de abundância de espécies se mantiveram estáveis durante os nove anos do estudo. É possível que este contraste se deva a diferenças na escala temporal entre os estudos. É possível que se Mac Nally (2007) tivesse separado os dados intra-anualmente talvez ele tivesse observado ciclos anuais na rotatividade dos ranques de abundância. Estes poderiam ser causados por movimentos sazonais e previsíveis tais como migração.

Nossos resultados também contrastam com a afirmação de Magurran (2007) de que o melhor ajuste para assembleias núcleo é a distribuição Log-normal. Nossos dados demonstram que, por apresentar ciclos anuais de diversidade, o melhor ajuste da DAE pode depender da época do ano na qual os dados são coletados. Magurran (2007) também sugeriu que a outra parte da comunidade, a assembleia composta pelas espécies infrequentes, é melhor descrita pela distribuição Log-series. O quanto esta previsão é corroborada pelos nossos dados é motivo para futuras investigações.

Nossos resultados temporais são equivalentes aos encontrados por Dornelas et al. (2006), cujos valores de similaridade entre comunidades de corais têm uma similaridade menor e mais variável ao longo do espaço do que modelos neutros podem produzir. De maneira contrastante, já foi sugerido que sob uma dinâmica neutra se esperaria encontrar menor similaridade entre comunidades ao longo do tempo e do espaço do que sob uma dinâmica de nicho (Hubbell 2001, Dornelas et al. 2006). No caso do nosso modelo neutro, é provável que a equivalência demográfica entre espécies nas taxas de entrada e saída faça com que mudanças na rotatividade de espécies sejam muito lentas. Isso pois mudanças no ranque dependem de mudanças nos tamanhos relativos das superpopulações de cada espécie, as quais demorariam em ocorrer sob uma dinâmica sujeita apenas aos efeitos da deriva ecológica.

Foi sugerido na literatura que métricas de diversidade que não rastreiam ranques de abundância, tal como índices de diversidade e ajustes de DAE, têm aplicação limitada para detectar mudanças na comunidade do que métricas que rastreiam a identidade das espécies (Magurran 2007, Mac Nally 2007). Nossos resultados, no entanto, encontraram variações cíclicas semelhantes entre ambos os tipos de métrica, sugerindo que o uso de métricas que não rastreiam ranques não devem ser descartadas de imediato.

Por fim, nossos dados indicam que dados de diversidade baseados em abundâncias cruas, especialmente no que se refere a métricas de similaridade entre DAE em função do intervalo de tempo entre elas, podem revelar padrões temporais semelhantes aos revelados por dados que levam em conta probabilidades de detecção variáveis.