Gráfico 1: Distribuição das atividades da Inspetoria (horas)
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Como podemos observar nos resultados apresentados acima, para que o inspetor realize apenas as tarefas relacionadas à avaliação em seu trabalho diário, é necessário um total de 08 horas e 33 minutos. Este valor é 7% acima do total das 8 horas disponíveis na jornada diária de trabalho. Essa diferença torna-se ainda maior se levarmos em consideração as atividades rotineiras já previstas no trabalho dos mesmos, representando um total de 12 horas e 51 minutos. Tais fatores vão de encontro à insatisfação dos colaboradores previamente relatada nos questionários aplicados, evidenciando, portanto, a sobrecarga na rotina dos mesmos.

Discussion

O presente estudo originou-se da necessidade de desenvolvimento e reestruturação da equipe em estudo, de modo que os inspetores passassem a ser vistos com um caráter instrutivo por suas equipes, em detrimento de um caráter avaliativo, conforme foram caracterizados no cenário atual.
Para tanto, torna-se necessário o conhecimento das características predominantes na equipe atualmente. O primeiro passo para identificação do perfil da equipe em estudo constituiu-se na aplicação dos questionários. Em geral, houve boa aceitação por parte dos colaboradores para respondê-los, e o percentual de atingimento do público alvo tanto para os inspetores quanto para os coordenadores alcançou 100%. Porém, houve certa resistência por parte das equipes de maquinistas e auxiliares para responder os questionários que lhes foram direcionados, atingindo, portanto apenas 36% do público desejado. Tal fator pode ser explicado devido à ocorrências anteriores na empresa de quebra de sigilo em questionários desse caráter, fator que acarretou no receio por parte dos colaboradores quanto ao uso dessa ferramenta. Essa experiência evidencia mais uma vez a importância de manter o sigilo dos entrevistados em todas as circunstâncias
Com relação às respostas obtidas nos questionários, pode-se salientar que as mesmas apresentaram grande valia para o prosseguimento dos estudos realizados, pois em sua maioria foram sinceras e condizentes com a realidade. Mais uma vez, existem ressalvas quanto à algumas das informações dadas pelas equipes de maquinistas e auxiliares, visto que os mesmos sentiram-se em algumas situações inibidos a expressar sua opinião sincera, por receio de uma retaliação no futuro.
Outra ferramenta considerada de extrema importância no prosseguimento dos estudos realizados foi o estudo de tempos e métodos. Por meio do acompanhamento realizado tornou-se possível a análise detalhada do dia a dia de um inspetor e a identificação dos principais pontos de melhoria na rotina dos mesmos. Porém, o estudo de tempos e métodos não seguiu o modo tradicional, fator que pode ser explicado por duas razões principais.
A primeira delas é devido à dificuldade em dividir as atividades em partes ou elementos mensuráveis, para que o tempo de cada elemento seja cronometrado individualmente, conforme proposto por Jacobs e Chase (2012). Isso pode ser explicado devido ao fato de que as atividades desenvolvidas pelos inspetores constituem-se em sua maioria em análises e treinamentos, e, portanto, não podem ser subdividas em partes, como é feito com tarefas mecânicas. Por isso, a alternativa encontrada foi de mensurar o tempo total associado à realização de cada atividade por completo.
Outra razão que diferencia a aplicação do método na equipe em estudo é devido ao dinamismo presente na rotina da inspetoria. Em diversas situações foi necessário interromper a cronometragem das atividades, pois o inspetor foi solicitado em outras tarefas, como esclarecimento de dúvidas dos colaboradores ou até mesmo o atendimento à ocorrências emergenciais de acidentes ou incidentes.
Contudo, ao longo das pesquisas realizadas identificou-se que um dos principais fatores que prejudicam o estabelecimento dos índices de performance desejáveis constitui-se na sobrecarga atual da rotina dos inspetores. De acordo com os autores Katzenbach e Smith (2001), um dos seis principais motivos que levam as equipes a enfrentarem problemas é a pressão exercida pelo tempo. Os autores afirmam que “o tempo muitas vezes é inimigo de um grupo que busca atingir um alto desempenho em equipe, especialmente se ele ainda não adquiriu habilidades de equipe e possui membros pouco familiarizados com os fundamentos dessa disciplina [...] Quando a pressão por tempo se torna muito forte, o grupo que ainda não domina os fundamentos da disciplina de equipe invariavelmente se voltará para comportamentos de líder único para apressar o andamento de suas atividades [...]”.
Como podemos observar pelos resultados apresentados, a rotina sobrecarregada e a burocracia associada às tarefas desempenhadas são fatores que têm contribuído para a insatisfação dos inspetores com relação ao seu trabalho. Tais fatores podem ser relacionados à insatisfação gerada nas equipes com relação à falta de reconhecimento ao desempenhar uma atividade corretamente, visto que a rotina dos inspetores tem sido sobrecarregada com atividades burocráticas, não permitindo, portanto, que os mesmos dediquem o seu tempo para dar o devido reconhecimento às suas equipes.
Percebeu-se que um tempo excessivo têm sido gasto em atividades que não apresentam grande produtividade, como reuniões, por exemplo, que muitas das vezes fogem do foco principal, e consomem o tempo de uma jornada completa dos inspetores. Para que isso não aconteça, é necessário que um líder a conduza e guie as opiniões, o curso, e as ações dos participantes (Bennis e Nanus, 1998).
Além disso, os critérios de periodicidade associados à algumas das tarefas obrigatórias da inspetoria precisam ser revisados e adaptados à rotina dos colaboradores, pois essas tarefas têm exigido um tempo excessivo para que sejam cumpridas, e por isso, têm prejudicado a qualidade de realização das mesmas. Como exemplo podemos citar o acompanhamento de viagem, que atualmente deve ser feito com 100% da equipe a cada três meses. Isso faz com que os inspetores sintam-se sobrecarregados e realizem acompanhamentos mais curtos com os maquinistas auditados, para que seja possível cumprir a meta trimestral. Porém, sugere-se que critérios diferentes sejam estabelecidos, como a realização dos acompanhamentos em função das características de condução de cada colaborador. Dessa forma, é possível realizar um filtro com os colaboradores que realmente necessitam ser acompanhados, com maior tempo e qualidade.

Conclusion

A principal conclusão obtida por meio do estudo apresentado é de que a equipe de Inspetoria Ferroviária apresenta um elevado grau de sobrecarga nas suas atividades, em função principalmente da burocracia associada às suas tarefas diárias.
Apesar destas condições, o grau de maturidade para equipe de alto desempenho obteve nota de 3,22 numa escala de 1 a 4, conforme proposto por Dyer (1995). Isto evidencia que uma redução no grau de sobrecarga da equipe, e reestruturação da sua rotina diária poderiam elevar os índices de performance para o patamar de uma equipe de elevado desempenho.
Com base nos resultados apresentados podemos verificar que a hipótese levantada de que a rotina dos inspetores têm sido destinada em grande parte à avaliação em detrimento da instrução de suas equipes é verdadeira, visto que os colaboradores possuem atualmente uma rotina sobrecarregada de tarefas burocráticas e de caráter essencialmente avaliativo. As tarefas avaliativas apresentam uma periodicidade de realização obrigatória e previamente definida por outros setores da companhia. Portanto, recomenda-se primeiramente que os critérios associados à realização dessas tarefas sejam reavaliados quanto à sua efetividade, e redefinidos de modo que as metas estabelecidas sejam atingíveis e possibilitem à equipe de inspetores uma maior liberdade para realização das demais tarefas, principalmente as relacionadas à instrução.
Além disso, foi possível perceber por meio da convivência com os inspetores que a organização da rotina dos mesmos depende essencialmente da organização pessoal de cada um dos membros, de modo que a priorização das atividades varia de acordo com a disposição de cada inspetor para determinada atividade. Esse fator pode influenciar tanto no tempo quanto na qualidade do trabalho dedicado às tarefas de instrução e avaliação.
Portanto, sugere-se que sejam desenvolvidas estratégias para a padronização da rotina da inspetoria, de modo que os inspetores recebam o devido treinamento quanto às ferramentas utilizadas, além do devido direcionamento das tarefas a serem priorizadas. Isso pode ser atingido por meio da criação de uma ferramenta que direcione o serviço dos inspetores, de modo a garantir a organização e otimização da rotina da equipe. Dessa forma, a gerência da empresa poderá determinar previamente as atividades que devem ser realizadas por cada um dos colaboradores em um determinado período, de acordo com os objetivos estratégicos da companhia.
Além disso, recomenda-se que em estudos futuros a mesma metodologia seja aplicada aos inspetores lotados em outras sedes da gerência do Rio de Janeiro, visto que a inspetoria possui características similares de atuação nesses locais. Dessa forma, será possível o atingimento e criação de equipes de alta performance em todas as sedes do estado, resultando em uma melhoria ainda mais significativa na performance da Gerência do Rio de Janeiro.